terça-feira, 15 de setembro de 2009

Tiffani Hollack Gyatso


Tiffani Hollack Gyatso nasceu em 1981, no Brasil. Passou a infância em uma comunidade criada por seus pais em Minas Gerais (www.taotien.com.br), e durante a adolescência viajou pelo mundo. Viveu em um veleiro na costa de São Paulo, depois com os aborigenes no deserto da Austrália e finalmente fez uma peregrinação pelo sul da Rússia a bordo de um motorhome, da Alemanha até a Mongólia. Foi quando viu Thangka, a arte sacra tibetana, pela primeira vez. Determinada a estudar a técnica de Thangka, trabalhou como designer gráfica na Alemanha por três anos antes de se estabelecer em Dharamsala, na Índia. Lá, foi a primeira estrangeira a ser aceita no Instituto Norbulingka (www.norbulingka.org), onde estudou de 2003 a 2006. Voltou ao Brasil e desde 2007 vive com seu bebê e seu marido tibetano em Viamão, onde convidada por Lama Samten, coordena as pinturas do Templo Caminho do Meio.
Tiffani escreveu um livro entitulado "Life andf Thangla" publicado na India em 2005. Ela procura publicar no Brasil e aqui ela oferece alguns trechos do seu livro em nossa língua. A história é sobre sua vida de aprendiz nas artes sacras budistas tibetanas, numa vida aventurosa nos pés do Himalaia. Quem quiser entrar em contato e se interessa em tornar esses contos em um livro, entre em contato: tiffanihr@gmail.com e seu site: www.tiffanihr.com


TUDO COMEÇA COM A MOTIVAÇAO
Às vezes o mundo parece ser tão dolorosamente belo. Olho pela janela e vejo como a natureza cresce e se transforma, sem outra intenção, a não ser a intenção de ser bela em sua crueldade e em sua doçura. Às vezes, o amor é tão intenso que um grito na tentativa de alívio soaria calado, pois o mundo engoliria o som, trazendo a dor de volta para mim. A cada instante sinto que estou morrendo e a cada momento desejo morrer em paz. Em minha morte pergunto aos céus para onde vou, mas minha voz é perdida no vazio do espaço. Deduzo então que é para lá que eu me vou – para o nada. Então, por quê? Pergunto ao deus que o homem criou: por que tento incansavelmente atingir algo? A ausência de resposta mistura-se a uma abundante diversidade de respostas: vozes da natureza, religião, ciência, emoções, lógica... dos outros. Sigo nesta busca, mergulhando em todas as fontes, não me importando se tudo está à beira de um precipício – estamos morrendo... e tudo que ainda desejo é apenas morrer em paz.


Não, não espero mais obter as respostas, mas sim me ver livre de tantas dúvidas. Achar um sentido para a vida que acalme a mente; ajude a aceitar minhas limitações e, ainda assim, que me mantenha convicta de que o que está além da mente é o ilimitado.

Indagar um universo infinito, significaria indagar infinitamente – então pergunto de novo: quero satisfazer a mente... ou quero simplesmente morrer em paz?

Continuo na busca de alívio, de um refúgio, de livrar-me da intensidade da vida, da beleza que não se perpetua na decadência; livrar-me deste ciclo de vida e morte; de desejos insatisfeitos; livrar-me de toda esta ignorância que me atrai e assusta com o seu veneno. Tento livrar-me dos altos e baixos navegando entre contentamento eufórico e desespero pacífico. Tento liberar-me da obsessão pelo conforto e inspirar-me sem dor e tristeza.

Sinto que o remédio de minha ferida é o papel: papel, lápis e cores. Misturo nanquim com sangue e a dor alivia. Sinto a necessidade de escrever e pintar para curar minha alma, mas isto não significa que sou infeliz! A contradição de tudo isso é que eu sou tão feliz que até dói.

Ausência de risadas não é sinônimo de infelicidade! Este tipo de felicidade que sinto explora até o mais íntimo do coração tímido, embebido em um mundo complexo e fascinante no qual a mente sedenta mergulha e se perde.Imagino que outros ‘buscadores’, se identificam com o que tento dizer.

Para arte ser, a arte precisa que o criador se explore e se renda a essa jornada de análise e desafio. Para desenhar o mundo precisamos primeiro sabê-lo, enxergá-lo e experiênciá-lo em profundidade, em suas proporções, perspectivas, sua geometria, luz, sombra, cores e textura. Afinal, o mundo não é nada mais que um reflexo do que somos, o micro do macro, que contém todo o universo já que dele somos parte. E é nele que a vida e a arte se fazem brotar.

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