Sem TV,
sem poder ler jornal,
sem ter com quem falar,
só tive uma coisa para fazer: pensar.
Sabe que é bom?
A SEMANA foi agitada: houve a expulsão de Geisy por usar minissaia -minissaia, aliás, lançada por Mary Quant nos anos 60-, a "desexpulsão", depois o protesto de colegas da UnB que a apoiaram e que, nus, foram entregar uma carta ao reitor da universidade (e eu pagava para ver a cara do reitor).Além disso, chegou Madonna, o que é sempre um acontecimento, não se sabe bem por que, e que passou duas horas no hotel Fasano com a mãe de Jesus, provavelmente pedindo sua mão em casamento. E para completar, tivemos o apagão. Como não estou em fase política, vou fingir que acreditei em tudo o que disse o grande especialista em energia Edison Lobão, indicado ministro por Sarney para que o PMDB apóie o PT, que assim terá mais tempo no horário político da TV, deu para entender?
Na quinta à tarde, o ministro disse, com voz firme, que o assunto está encerrado; que maravilha. É claro que foram a chuva, os ventos e alguns raios os responsáveis pelo apagão, mesmo tendo chovido tão pouco em Itaberá; tão pouco que as luzes da cidade nem se apagaram, segundo o prefeito e os habitantes locais. Quanto a raios, nem unzinho. A culpa então foi de quem? Dos inimigos do PT e da imprensa, naturalmente. A pergunta que mais se fez foi "onde você estava na hora do apagão?". Eu estava em casa, e como não costumo ter velas na gaveta, fiquei numa escuridão/solidão total, e morta de calor; foi uma das noites mais quentes do ano. Celulares, nada; tentei ligar do fixo, mas não conseguia ver os números, então abri a tampinha do celular e com aquela luzinha fraca digitei o número, mas qual: tudo mudo. E percebi o quanto somos dependentes de toda essa parafernália eletrônica. Da luz, em primeiro lugar, e de todo o resto, em segundo. Quem me salvou dessa noite de trevas foram meus dois gatinhos, que não saíram de perto de mim um só minuto. E sem televisão, sem poder ler um jornal, sem ter com quem falar, só tive uma coisa para fazer: pensar. Sabe que é bom? Nunca se tem tempo para essa coisa fundamental: pensar. Pensei em tudo o que a gente acaba negligenciando, sobretudo nossos afetos. Mas como os sentimentos não sobrevivem sem uma certa atenção, um dia se começa a achar que o coração não consegue -e nunca mais vai conseguir- gostar ou ao menos sofrer por alguém. Mas o tempo passa, aquele amigo de quem se gostava tanto viaja, e um belo dia você sente saudades dele. Há quanto tempo isso não te acontecia? Ter saudades quer dizer que seu coração está vivo, e esse fato é mais merecedor de uma comemoração do que qualquer data querida. Um amigo é uma coisa muito boa, e se ele for daqueles que não te patrulham, não te invejam, não te analisam nem discutem a relação, é bom demais. Um amigo que te aceita do jeito que você é, não faz perguntas indiscretas, te entende pelo olhar, e não é, jamais, invasivo. Um amigo que nunca pergunta "em que você está pensando?", que é leve, que tem o hábito saudável de não se aprofundar sobre nenhum assunto -só a pedidos. Se estiver tomando um banho de mar, ele não vai contar o quanto o mar o influenciou para ser quem é, como são boas as coisas simples da vida: uma rede, um camarãozinho frito e uma cerveja gelada -e daí para o divã é um pulo. Um amigo leve apenas usufrui a vida, e quem tiver a sorte de tê-lo a seu lado vai ter momentos de grande felicidade. E se você se distrair e voltar a falar no apagão, ele te dá a solução: ter sempre, na mesa de cabeceira, uma caixa de remédio para dormir -tarja preta. danuza.leao@uol.com.br
segunda-feira, 30 de novembro de 2009
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