domingo, 8 de novembro de 2009

Sobrenomes judeus - de que raízes se originam?

Por que me chamo Moisés?
Por que levo o nome do meu bisavô, que morreu antes de eu nascer?
Os judeus ashkenazim dão a seus filhos os nomes dos ascendentes falecidos.
Isso tem a ver com a crença no restabelecimento da alma e com a honra e recordação do morto. Se pudesse seguir sua árvore genealógica, alguém que se chame Moisés encontraria tataravôs chamados Moisés a cada três gerações.
Os judeus sefaradim dão a seus filhos o nome dos avós, que geralmente estão vivos. Assim, numa árvore genealógica sefaradí vão encontrar o mesmo nome uma geração em média. Se alguém ler a história da Espanha não saberá às vezes quem morreu e quem continua vivo. Será o avô ou o neto? Outras vezes encontram o filho com o mesmo nome que o pai, mas é um costume cristão que se encontra entre os judeus sefaradim depois que deixaram a Espanha, por causa da inquisição.
Diferentemente dos aristocratas e das pessoas ricas, os judeus não tinham sobrenomes na Europa Oriental até os anos napoleônicos, nos princípios do século 19. A maior parte dos judeus dos países conquistados por Napoleão, Rússia, Polônia, e Alemanha receberam a determinação de adotar sobrenomes para cobrança de impostos. Após a derrota de Napoleão, muitos judeus retiraram estes nomes e voltaram ao " filho de", surgindo então nomes como: Mendelsohn, Jacobson, Levinson, etc.
Durante a chamada Emancipação, os judeus mais uma vez receberam a ordem de adotar sobrenomes. Na Áustria e na Galícia, o imperador José fez os judeus tomarem sobrenomes em 1788. As "listas de sobrenomes" do Império Austro-Húngaro, em geral, usavam palavras em alemão, muito parecidas com ídiche.
A Polônia ordenou os sobrenomes em 1821 e a Rússia, em 1844. É provável que algumas das famílias judias já tivessem recebido seus sobrenomes nos últimos 175 anos ou menos.
Na França e nos países anglo-saxônicos os sobrenomes voltaram no século 16. Também os judeus sefaradim recuperaram seus sobrenomes após longos séculos.
A Espanha antes de Fernando e Isabel foi uma época de ouro para os judeus. Eles foram expulsos por Isabel no mesmo ano em que Colombo partiu para a América. Os primeiros judeus americanos eram sefaradim.
Significado dos sobrenomes:
Há dezenas de milhares de sobrenomes judeus utilizando a combinação das cores, dos elementos da natureza, dos ofícios, cidades e características físicas.

Um pequeno exercício é perguntar:
Quantos sobrenomes judaicos podemos reconhecer com a raiz das seguintes palavras?
Cores: Roit, Roth (vermelho); Grun, Grin (verde); Wais, Weis, Weiss (branco); Schwartz, Swarty (escuro, negro); Gelb, Gel (amarelo).
Panoramas: Berg (montanha); Tal, Thal (vale); Wasser (água); Feld (campo); Stein (pedra); Stern (estrela); Hamburguer (morador da vila).
Metais, pedras preciosas, mercadorias: Gold (ouro), Silver (prata), Kupfer (cobre), Eisen (ferro), Diamant, Diamante (diamante), Rubin (rubi), Perl (pérola), Glass, (vidro), Wein (vinho).
Vegetação: Baum, Boim (árvore); Blat (folha); Blum (flor); Rose (rosa); Holz (Madeira). Características físicas: Shein, Shen (bonito); Hoch (alto); Lang (comprido); Gross, Grois (grande), Klein (pequeno), Kurtz (curto); Adam (homem).
Ofícios: Beker (padeiro); Schneider (alfaiate); Schreiber (escriturário); Singer (cantor). Holtzkocker (cortador de madeira), Geltschimidt (ourives), Kreigsman, Krigsman, Krieger, Kriger (guerreiro, soldado), Eisener (ferreiro), Fischer (peixeiro, pescador), Gleizer (vidreiro).
Utilizaram-se as palavras de forma simples, combinadas e com a agregação de sílabas como son, filho; man, homem; er: que designa lugar, agregando-se preferencialmente após o final do nome da cidade.
Em muitos países adaptaram-se as terminações dos sobrenomes ao uso do idioma do país como o sufixo "ski", "sky" ou "ska" para o caso de mulher, "as","iak", "shvili" , "wicz" ou "vich". Então, com a mesma raiz, temos por exemplo: Gold, que deriva em Goldman, Goldrossen, Goldanski, Goldanska, Goldas, Goldiak, Goldwicz, etc. A terminação indica que idioma falava-se no país de onde é o sobrenome.

Sobrenomes espanhóis: Entre os sobrenomes judaicos espanhóis é fácil reconhecer ofícios, designados em árabe, ou em hebraico, como: Amzalag (joalheiro); Saban (saboneiro); Nagar (carpinteiro); Haddad (ferreiro); Hakim (médico).
Profissões relacionadas com a sinagoga como: Hazan (cantor); Melamed (maestro); Dayan (juiz); Cohen (rabino); Levy, Levi (auxiliar do templo).
Títulos honoríficos: Navon (sábio); Moreno (nosso mestre) e Gabay (oficial).
O sobrenome popular Peres, muitas vezes escrito Perez, com a terminação idiomática espanhola, não é, no entanto, sobrenome de origem espanhola, mas uma palavra hebraica que designa os capítulos nos quais a Torá (os cinco livros do Pentateuco), se divide para sua leitura semanal, de forma a completar em um ano a leitura do livro sagrado.
Muitos sobrenomes espanhóis adquiriram pronúncia ashkenazi na Polônia, como exemplo, Castelanksi, Luski (que vem da cidade de Huesca, na Espanha). Ou tomaram como sobrenome Spanier (espanhol), Fremder (estranho) ou Auslander (estrangeiro).
Na Itália a Inquisição se instalou depois que na Espanha, de modo que houve também judeus italianos que emigraram para a Polônia. Aparece o sobrenome Italiener e Welsch ou Bloch, porque a Itália é também chamada de Wloche em alemão.
Nomes de cidade ou país de residência: Berlin, Berliner, Frankfurter, Danziger, Oppenheimer, Deutsch ou Deutscher (alemão), Pollack (polonês), Breslau, Mannheim, Cracóvia, Warshaw (Varsóvia).
Nomes comprados: Gluck (sorte), Rosen (rosas), Rosenblatt (papel ou folha de rosas), Rosenberg (montanha de rosas), Rothman (homem vermelho), Koenig (rei), Koenigsberg (a montanha do rei), Spielman (homem que joga ou toca), Lieber (amante), Berg (montanha), Wasserman (morador da água), Kershenblatt (papel de igreja), Kramer (que tenta passar como não judeu). Nomes designados (normalmente indesejáveis): Plotz (morrer), Klutz (desajeitado), Billig (barato).
Sobrenomes oriundos da Bíblia: Uma boa quantidade de sobrenomes judeus deriva dos nomes bíblicos ou de cidades europeias da Ásia Menor.
Isto muitas vezes fez os judeus levarem consigo as pegadas dos lugares em que se originaram. Tomemos como exemplo de "raiz de sobrenome" o nome de Abraham (Abrahão). Filho de Abraham se diz diferentemente em cada idioma. Abramson, Abraams, Abramchik em alemão, ou holandês. Abramov ou Abramoff em russo. Abramovici, Abramescu em romeno. Abramski, Abramovski nas línguas eslavas. Abramino em espanhol. Abramelo em italiano. Abramian en armênio. Abrami, Ben Abram em hebraico. Bar Abram em aramaico e Abramzadek ou Abrampur em iraniano. Abramshvili em georgiano. Barhum ou Barhuni em árabe.
Os judeus de países árabes também usaram o prefixo ibn. Os cristãos igualmente passaram a usar seus sobrenomes com agregados que significam "filho de". Os espanhóis usam o sufixo "ez", os suecos o sufixo "sen" e os escoceses põem "Mac" no início do sobrenome. Os sobrenomes judaicos não tomaram a terminação sueca nem o prefixo escocês. Pode-se constatar essas variações olhando em catálogos telefônicos: quantos sobrenomes há derivados de Abraham, Isaac e Jacob. Há também sobrenomes judeus que seguem o nome de mulheres, mas são menos comuns. Às vezes isto acontecia porque as mulheres eram viúvas, ou por alguma razão eram figuras dominantes na família. Goldin vem de Golda. Hanin de Hana. Perl, ou Perles de Rivka. Um fato curioso apresenta o sobrenome Ginich. A filha do Gaon de Vilna se chamava Gine, e se casou com um rabino vindo da Espanha. Seus filhos e netos ficaram conhecidos como os descendentes de Gine e tomaram o sobrenome Ginich. Também há sobrenomes derivados de iniciais hebraicas, como Katz ou Kac, que em polonês se pronuncia Katz. São duas letras em hebraico, K e Z iniciais das palavras Kohen Zedek, que significa "sacerdote justo".

Sobrenomes adquiridos em viagens: Nos sobrenomes que derivam de cidades a origem é clara em Romano, Toledano, Minski, Kracoviac, Warshawiak (de Varsóvia). Outras vezes o sobrenome mostra o caminho que os judeus tomaram na diáspora. Por exemplo, encontramos na Polônia sobrenomes como Pedro, que é um nome ibérico. O que indica? Foram judeus que escaparam da Inquisição espanhola no século XV. Em sua origem, possivelmente eram sefaradim, mas se mesclaram e adaptaram-se ao meio azkenazi. Muitas avós polonesas se chamam Sprintze. De onde vem esse nome? O que significa? Lembrem-se que em hebraico não se escrevem as vogais, de tal forma que é um nome que se escreve em letras hebraicas, Sprinz, que em polonês se lê Sprintze, mas como leríamos esse nome se colocássemos as vogais? Em español, seria Esperanza, e em português Esperança, que escrito em hebraico e lido em polonês resulta Sprintze.

Mudança de sobrenomes: Existem muitas histórias nas mudanças dos sobrenomes. Durante as conversões forçadas na Espanha e em Portugal, muitos judeus se converteram adotando novos sobrenomes, que as paróquias escolhiam para os "cristãos novos" como Salvador ou Santa Cruz. Outros receberam o sobrenome de seus padrinhos cristãos. Mais tarde, ao fugir para a Holanda, América ou o império turco, voltaram à religião judaica, sem perder seu novo sobrenome. Assim apareceram sobrenomes como Diaz ou Dias, Errera ou Herrera, Rocas ou Rocha, Marias ou Maria, Fernandez ou Fernandes, Silva, Gallero ou Galheiro, Mendes, Lopez ou Lopes, Fonseca, Ramalho, Pereira e toda uma série de denominações de árvores frutíferas (Macieira, Laranjeira, Amoreira, Oliveira e Pinheiro).
Ou ainda de animais como Carneiro, Bezerra, Lobo, Leão, Gato, Coelho, Pinto e Pombo. Outra mudança de sobrenomes foi causada pelas guerras. As pessoas perderam, ou quiseram perder, seus documentos, e se "conseguia" um passaporte com sobrenome que não denunciava sua origem, para cruzar a salvo uma fronteira, ou escapar do serviço militar. Nos fins do século XIX, o Czar da Rússia exigia 25 anos de serviço militar obrigatório, especialmente dos judeus. Quantos imigrantes fugiram da Rússia e da Ucrânia com passaportes mudados para evitar uma vida dedicada ao exército do Czar? Outra questão é que somos filhos de imigrantes, e muitos sobrenomes se desfiguraram com a mudança de país e de idioma. Às vezes eram os funcionários da Alfândega ou da Imigração, outras o próprio imigrante que não sabia espanhol, ou escrevia mal. Por isso, muitos integrantes da mesma família têm sobrenomes similares em som, mas escritos com grafia diferente. Além disso, na Polônia a mulher tinha um sobrenome diferente do masculino, terminava em "ska", no lugar de "ski", pois indicava o gênero. Esses, são só alguns dos milhares de sobrenomes judeus existentes. E assim a história continua..."

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