MARCO RODRIGO ALMEIDA
DE SÃO PAULO
Poucos artistas do século 20 tiveram a vida e a obra tão devassadas como o cineasta inglês Alfred Hitchcock (1899-1980).
Desde 1957, quando os franceses Claude Chabrol (1930-2010) e Éric Rohmer (1920-2010) publicaram a coletânea de ensaios "Hitchcock" --o primeiro trabalho importante sobre ele--, centenas de documentários, livros, teses e o que mais a criatividade humana permitiu tentaram destrinchar cada aspecto de sua carreira.
Talvez o maior elogio que podemos fazer a ele é que, à parte todas as teorias, os filmes do mestre do suspense continuam tão intrigantes hoje quanto à época em que foram lançados.
O público de São Paulo terá mais uma prova disso a partir de amanhã, quando estreia, no Centro Cultural Banco do Brasil, a mais completa retrospectiva já dedicada ao cineasta no Brasil.
Até o dia 24 de julho, serão exibidos 54 longas-metragens, três curtas e 127 episódios da série de TV que Hitchcock comandou entre os anos 1950 e 1960.
Apenas alguns trabalhos hoje considerados perdidos, como o média-metragem "The Mountain Eagle" (1926) e alguns curtas do início da carreira, ficaram de fora.
Para os fãs, é a oportunidade de ver, na tela de cinema, um panorama de toda a produção de Hitchcock, além de conferir aspectos menos conhecidos da obra do artista.
Um fragmento de nove minutos de "Sempre Conte a sua Esposa", única parte conservada de um curta-metragem que Hitchcock codirigiu em 1923, é o trabalho mais antigo a ser exibido.
O trecho passará na abertura da mostra, às 10h, com "O Jardim dos Prazeres", primeiro longa do diretor.
Os outros dois curtas da programação, "Bon Voyage" e "Aventure Malgache", ambos de 1944, foram produzidos como peças de propaganda para o Ministério de Informação do Reino Unido durante a Segunda Guerra.
Da fase de Hitchcock no cinema mudo, ainda na Inglaterra, estão presentes raridades como "O Inquilino" (1926), seu primeiro grande sucesso, e "O Aviso" (1927).
Já "Chantagem e Confissão" ("Blackmail", 1929) passará em suas duas versões, muda e sonora.
Ainda no campo das raridades, há episódios de séries, como "Alfred Hitchcock Apresenta" e "The Hitchcock Hour". De 127, 20 tiveram realmente sua direção.
Para não falar, é claro, do prazer de rever as principais obras do cineasta, como "Janela Indiscreta" (1954), "Um Corpo que Cai" (1958), "Intriga Internacional" (1959) e "Psicose" (1960), no cinema.
"Um diretor tão excepcional não poderia ser tema de uma retrospectiva qualquer", diz o curador da mostra, Arndt Roskens.
Alemão radicado no Brasil, Roskens trabalhou nos festivais de Berlim e do Rio e organizou, no ano passado, outra retrospectiva, de Yasujiro Ozu (1903-1963).
Ele levou quase um ano para reunir todas as cópias dos filmes que serão exibidos na mostra. Elas vieram de cinematecas e museus de vários países, como EUA, França e Inglaterra. A que mais viajou foi "Juno e Paycock" (1930): veio da Austrália.
Curiosamente, a cópia mais difícil de localizar foi a do filme "Ladrão de Casaca" (1955), um dos maiores sucessos de Hitchcock.
Após meses de procura, Roskens encontrou uma distribuidora francesa que detinha os direitos do filme.
Os esforços valeram a pena: a mostra vai apresentar uma cópia nova do filme, nunca exibida antes.
As demais cópias da mostra, apesar de não terem sido restauradas especialmente para a ocasião, estão em bom estado.
Fonte: Folha Sp
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