quinta-feira, 22 de novembro de 2012

HABANERAS..............lançamento livro.................Porto Alegre


Caros colaboradores

Em tempo de conferir as possíveis formas que o medo assume na contemporaneidade, durante a penúltima semana da exposição SOB CONSTANTE AMEAÇA no MACRS, convidamos vocês a prestigiaerem o lançamento do livro HABANERAS, de Walter Karwatzki, no dia 24 de novembro, às 11h, que retrata - em histórias e imagens - a criativa e inspiradora paisagem cultural da ilha de Cuba, que há cinquenta anos enfrenta um embargo comercial e econômico.

Agradecemos sua presença e divulgação!

Cordialmente,
André Venzon
Diretor MACRS






HABANERAS
MACRS e editora PROA lançam livro de contos e fotografias sobre

CUBA de WALTER KARWATZKI


Primeiro livro do artista Walter Karwatzki,  HABANERAS (PROA, 83 páginas), reúne oito mini contos sobre suas viagens a capital da ilha de Cuba nos anos 90, com 16 fotografias que revelam a paisagem cultural de La Havana — nome do qual deriva o estilo musical característico cubano Habaneras. As fotografias, captadas e reveladas ainda em Cuba pelo autor, receberam tratamento especial para a publicação, sendo impressas em papel fotográfico. As imagens, somadas às histórias de Karwatzki, a primeira vista, parecem ressaltar a degradação social causada pelo embargue comercial e econômico do Estados Unidos ao país, que já completou 50 anos. Porém os textos, a despeito desta situação política, testemunham uma vivência tão criativa, quanto inspiradora, de um povo com seu território, onde, conforme sentencia uma das suas personagens, Mabel: Nada é apenas o que parece ser; sempre se pode ir além.

O livro tem lançamento com sessão de autógrafos, dia 24 de novembro de 2012, às 11h, no Museu de Arte Contemporânea do RS (Rua dos Andradas, 736 – Bairro Centro Histórico), Espaço Vasco Prado, 6º andar da Casa de Cultura de Mario Quintana. Na ocasião, também estarão expostas as fotografias do autor que ilustram o livro Habaneras, com preço especial no lançamento de R$ 40,00, sendo que parte da renda será doada ao Instituto Via Vida, que abriga pessoas de fora do RS para receber transplantes de órgãos.

Serviço:

O quê? LANÇAMENTO DO LIVRO HABANERAS, de Walter Karwatzki
Sessão de autógrafos com exposição das fotografias que integram a obra.
Quando: Dia 24 de novembro de 2012, às 11h.
Onde: Museu de Arte Contemporânea do RS (Rua dos Andradas, 736)
Espaço Vasco Prado, 6º andar da Casa de Cultura Mario Quintana.
Informações: T +55 51 3221 5900 / mac@sedac.rsgov.br
www.macrs.blogspot.com / facebook.com/contemporanears

HABANERAS
Autor: Walter karwatzki
Editora: PROA
Design de capa : Humberto Nunes
Revisão: Cassiano Terra
A obra foi composta em Minion e impressa em Santa Maria pela gráfica Pallotti sobre papeis pólen bold 90 e couché 150 para a editora PROA em outubro de 2012.
1ª edição


Sobre o autor:

WALTER KARWATZKI [Maceió – AL, 1959] vive e trabalha, desde 1980, em Porto Alegre, RS. Brasil. Atividades atuais: Coordenador de Projetos Culturais do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia – IFRS. Membro do Comitê de Acervo e Curadoria do Museu de Arte Contemporânea do RS – MACRS. Membro da Diretoria da Associação Riograndense de Artes Plástica Francisco Lisboa nas gestões 2008-2010 e 2012-2014. NA ÁREA DA FOTOGRAFIA: Realizou exposições em vários estados brasileiros no Uruguai, Argentina, Canadá e EUA. Em 2012 A Imagem da Palavra. IEAVI/IEL. Centro de Exposiciones SUBTE. Montevidéu – Uruguai. Em 2006 Quintanares: A Poesia de Mario Quintana em p&b. Porto Alegre – RS.  PRÊMIOS E DISTINÇÕES NA ÁREA DA FOTOGRAFIA: Em 2012: III Prêmio Artes Visuais João Simões Lopes Neto. Prêmio Aquisição; Em 2009: 1º Prêmio MUHM de Fotografia. Museu de História da Medicina do RS. 8º lugar na categoria amador. Porto Alegre – RS. Em 2007: Projeto Cultural “Eu Faço Cultura” da Caixa Econômica Federal. Fotógrafo selecionado na etapa Porto Alegre. Porto Alegre – RS. XI Concurso Anual Sioma Breitman de Fotografia. Foto selecionada. Porto Alegre – RS. Em 2006: VI Concurso Internacional de Fotografia de la Red Mercociudades”. 1º Lugar. Buenos Aires – Argentina;  OBRAS EM COLEÇÕES INSTITUCIONAIS: Museu de Arte Contemporânea do Rio Grande do Sul – MACRS. Duas obras. Em 2007: Livro “Doando Vida”. Coletivo – Elda Franco, Júlio Appel, Maria Clara Adams, Marta Morales e Walter Karwatzki [fotos e Coordenação Editorial]. Livro resultante da mostra fotográfica “Doando Vida” em parceria com a instituição VIAVIDA Pró-Doações e Transplantes. Porto Alegre – RS.


Leia alguns trechos do livro:


PRÓLOGO

San Cristóbal de La Habana, ou simplesmente Havana, a capital de Cuba, tem lá suas belezas visíveis: o mar, a arquitetura colonial espanhola e seu povo multirracial — todas bem fáceis de se perceber. Mas a maior das belezas de Havana não se vê a olho nu; é preciso ouvi-la. Sim, a grande beleza de uma cidade está na história de seu povo e nas histórias que seu povo conta. Em Havana, ouvi e vivi histórias que certamente não teriam sido possíveis se eu não tivesse fugido dos óbvios roteiros recomendados pelas agências de turismo — tanto as estatais quanto as privadas. Munido de um bom mapa da cidade, alguns recursos monetários — pesos cubanos, dólares e cartões de crédito —, um guia de bolso, uma máquina fotográfica, muita vontade de andar, nenhuma vergonha de perguntar e uma imensa paciência de ouvir; fui ver, viver e ouvir a urbe de San Cristóbal de La Habana. A máquina fotográfica registrou algumas fotos e o que os ouvidos puderam captar resultou nestas histórias. São histórias simples, do cotidiano, com alguma graça, com certos significados e uma dose de magia. Se totalmente reais, não importa, histórias são histórias.


O autor




O MARIDO DA MABEL


Estávamos numa praia de La Habana Del Este, chamada Santa María Del Mar, quando notei que Mabel — nossa guia sem vínculo com qualquer empresa turística — retirava, com a ajuda das chaves do carro, o esmalte das unhas. Aproximei-me e comentei que daquela maneira ela iria estragar as unhas; que o melhor seria usar acetona. Mabel parou o que estava fazendo, deu um sorriso e me perguntou se eu sabia qual era a origem da acetona. Respondi que sim; era um dos derivados do petróleo. Mabel balançou a cabeça positivamente e me disse:
— Então!
— Então o quê? — perguntei.
Mabel me falou a palavra esclarecedora:
— Em-bar-go! Embargo, meu querido.
— Ah! O embargo… Tinha esquecido — comentei, meio sem graça.
Depois, Mabel perguntou se eu por acaso tinha na bolsa um tubo de repelente de insetos. Prontamente fui buscá-lo. Ela agitou o tubo, colocou a mão esquerda sobre os joelhos, deu um rápido spray em cada unha, pegou as chaves do carro e voltou a retirar o esmalte e me disse em tom explicativo:
— Aqui em Cuba o ideal é ler a bula; não podemos nos contentar apenas com o que está escrito no rótulo. Temos que ver o todo, não apenas uma parte. Nada é apenas o que parece ser; sempre se pode ir além — disse, cuspindo uma lasca do esmalte vermelho —. Este ir além está sendo aprimorado com o passar dos anos devido ao embargo. Mas, esta é uma característica antiga do povo cubano. Corre nas veias — completou rindo.
Ao terminar seu tratamento alternativo de beleza, segurou o tubo de repelente com as duas mãos e falou como uma garota propaganda:
— Isto aqui não é, mas tem acetona!
Só aí é que me dei conta da abrangência do embargo no dia-a-dia dos cubanos. Como visitante e hóspede de um bom hotel, nunca tinha pensado nas necessidades diárias mais básicas de uma pessoa qualquer. Nunca tinha parado para pensar em coisas menores, como acetona, por exemplo. Daquele dia em diante, procurei economizar tudo que podia: sabonete, pasta dental, creme de barbear, fio-dental, loção pós-barba, desodorante, xampu, etc.
No dia do embarque, na porta do Hotel Vedado, chamei Mabel e dei para ela uma sacola com o que sobrou dos meus produtos de higiene pessoal — xampu, desodorante, sabonete e um tubo de creme de barbear —, agradecida, Mabel me deu um beijo e um abraço.
Um ano depois, retornei à Havana. Ainda no Aeropuerto Internacional José Martí, no meio de um pequeno e ruidoso grupo de turistas brasileiros, avistei a Mabel, que, ao me ver, acenou falando bem alto e em bom português:
— Meu marido lhe adora! Ele lembra de você todas as manhãs!


MODELO ÚNICO


Porsche vermelho e conversível! Quem nunca desejou ter um? Pode ser até de outra cor, mas que este carrinho desperta fantasias, isso ninguém pode negar! Quem nunca se imaginou dirigindo um Porsche numa estrada sinuosa beirando um mar de cartão-postal?
Certa tarde, aproveitando uma folga na faculdade, fui dar uma volta em Nuevo Vedado, tradicional bairro de Havana, para fotografar os bangalôs e suas ruas arborizadas. A grande maioria das casas de Nuevo Vedado foi construída nas décadas de 1930 e 1940, muitas serviam de residência de verão para ricas famílias norte-americanas. Hoje, as casas estão, quase todas, em péssimas condições físicas, mas ainda revelam riquíssimos detalhes arquitetônicos, e são ocupadas por famílias habaneras. As ruas repletas de grandes árvores, que com suas sombras amenizam o calor tropical, são um convite para longos e despreocupados passeios. É comum ver a criançada praticando o esporte nacional de Cuba, o beisebol, grupos de senhores jogando gamão ou dominó e senhoras em longas prosas nas calçadas.
Numa dessas ruas sombreadas avistei, estacionado na frente de uma casa, um autêntico Porsche vermelho conversível. Inteirinho, reluzente, uma uva! — como diria meu pai. O tempo parecia não ter visto aquele Porsche. E se viu, poupou-o.
Aproximei-me com cautela, como quem se aproxima de um quadro ou de uma escultura num museu — observando seus detalhes, suas formas, seu conjunto. Preparei a máquina fotográfica e caminhei em volta do carro na procura do melhor ângulo para uma foto. Sentado numa cadeira de balanço na varanda da casa, um senhor de uns 50 ou 55 anos me cumprimentou. Fiquei sem graça, pois não imaginava que era observado. Em sinal de respeito à propriedade alheia, afastei-me um pouco do carro e baixei a máquina fotográfica. O senhor desceu a escada que separava a varanda do jardim, abriu um velho portão de ferro, encostou-se na árvore da beira da calçada e ficou me olhando por cima dos óculos — parecia esperar alguma coisa de minha parte. Ficamos assim por um tempo; ele me olhando e eu olhando para ele, para a casa e para o Porsche. Não sei quem riu primeiro, mas ambos caímos na risada. Nos apresentamos formalmente.
— Señor Juan. Mucho gusto — ele disse.
Em seguida, perguntou se eu não queria tomar um refresco. Aceitei o convite e fomos para a varanda da casa. Uma senhora nos aguardava — era dona Celina, a esposa do senhor Juan. Não demorou para que dona Celina trouxesse uma jarra com um refrescante suco de limão. Na varanda, a conversa girou inicialmente sobre mim, depois o senhor Juan me fez perguntas sobre o Brasil — eleições, carnaval, novelas, futebol; coisas do gênero. Na primeira oportunidade que eu tive, fui ao motivo que me colocara naquela varanda tomando suco de limão com duas pessoas que jamais tinha visto — o Porsche vermelho conversível!
— Que modelo é este Porsche, senhor Juan?
— Este é um 356 de 1958.
— Que belo carro este do senhor señor Juan — comentei.
Para minha surpresa, o senhor Juan me corrigiu dizendo que o carro não era dele. Ele apenas cuidava.
— Cuida? Não é seu? — indaguei.
— É… Eu cuido — disse. — O carro é do Bob — completou.
— Quem é o Bob? — perguntei.
Dona Celina, que até então estava em pé, quieta e encostada na porta de entrada da casa, puxou uma cadeira e sentou-se ao meu lado. Respirou fundo e me disse, em tom confidencial:

Vou te contar toda a história, meu jovem. Pois bem, os pais do Juan eram empregados dos proprietários, ou melhor, dos ex-proprietários desta casa. Um casal de médicos, judeus, que vivia em Nova Iorque e só usava a casa da metade de dezembro até a metade de janeiro, nas férias. O carro, ou seja o Porsche, o Bob, que era o único filho do casal e tinha quase a mesma idade do Juan, ganhou de presente dos pais no Natal de 1958. Com a queda do “Estado-bucaneiro” do Fulgêncio, a família voltou às pressas para Nova Iorque. No dia que eles foram embora, o tal Bob, com meio-corpo para fora do táxi que os levou ao aeroporto gritou:
— Juan… Cuida do carro pra mim… Um dia eu volto para buscar!
Assim, desde então, o Juan cuida do Porsche. O dono mesmo é o Bob. Entendeu?

Fiquei olhando pensativo para o senhor Juan por uns minutos. Ele, na cadeira de balanço olhando para frente — mais precisamente na direção do Porsche. Perguntei se poderia tirar uma foto deles. Ele me olhou com o canto do olho, fez um sinal positivo com a cabeça e me ofereceu mais um copo de limonada. Dona Celina me serviu a limonada, pediu licença dizendo que o telefone estava tocando e entrou na casa — o senhor Juan me cochichou que dona Celina não gostava de tirar fotos. Fotografei-o e me despedi dele com um forte abraço. Desci as escadas da varanda e quando eu estava abrindo o portão ouvi dona Celina me perguntar da varanda:
— Com quem a viúva Porcina vai ficar no final da novela?
Dei meia-volta, fiquei olhando aqueles dois parados na varanda da casa e respondi:
— Vai ficar com o Bob!
Dona Celina, incrédula, colocou as duas mãos na boca enquanto o señor Juan batia palmas e ria.
— Estou brincando, dona Celina. É sorte demais para um gringo só, a senhora não acha? Não me lembro! — disse, e fui embora ouvindo as palmas e as risadas do senhor Juan.
Andei umas seis quadras na direção do hotel pensando na história que acabara de ouvir. De repente, me lembrei que não tinha tirado nenhuma foto do Porsche. Pensei em voltar, mas desisti — eu tinha tirado uma foto do modelo único chamado Señor Juan, com mucho gusto! Um dia eu voltarei para visitá-los.

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