terça-feira, 12 de outubro de 2010

Passante

Passante
Luciano Zanette no Projeto Vitrine Efêmera

Curadoria Osvaldo Carvalho
Abertura 9 de outubro de 2010 às 18h
Vitrine aberta diariamente até 23 de outubro
ESTUDIO DEZENOVE

Coordenação Julio Castro
Efêmeros/Passantes
Ao observarmos a obra Passante detém-nos a transposição que aplica sobre o espaço expositivo. Algo peculiar está na lógica desse ato que surpreende o olhar antes mesmo de alcançar nossa consciência.
Saindo da vitrine e seguindo para o calçamento, suas linhas de madeira crua se erguem frente ao vidro e desenham um novo horizonte que se contrapõe ao declive estrutural que fica no interior da vitrine. Sendo peça única possui também o desejo de ter outro lado, outra possibilidade que se arrasta sorrateira e desenvolve um novo gesto: se deixa verdadeiramente exposta ao público e às intempéries.
Como um animal que se estica pelas grades de sua jaula em um zoológico, Passante cruza os limites do cubo branco e se entrega ao afago direto do espectador, do eventual contato físico, e também da chuva, do calor, do frio, da solidão.
Diante da impossibilidade de mudar o lugar do contexto Luciano Zanette intenta mudar o contexto do lugar. Traz ao convívio dos que por ali transitam a presença viva de sua obra. Não mais um lugar privilegiado da visão, a vitrine passa também a interagir com o caminho de passagem. Justamente a reconstrução de uma nova situação espacial proposta pelo artista nos leva a pensar sobre o que propunha Thierry de Duve quanto aos aspectos de uma arte específica para um lugar em seu célebre texto Ex-Situ de 1989. Pautado em três categorias, lugar, espaço e escala, de Duve alega que a recriação do site pelo artista pressupõe a retirada de uma delas para que em efeito inverso seu trabalho ganhe nova potência, nova dinâmica. Em P assante encontramos então uma nova postura quanto ao espaço de referência da vitrine que é expandida para além dos domínios de contenção da obra de arte.
O que é percebido e vivido no projeto apresentado é a transformação da realidade estabelecida. A densidade simbólica de um “passante” a outro é o que aproxima conhecimentos diferentes e diferenciados pela própria condição transitória de seus corpos (diga-se, daquele que passa). A vitrine é efêmera tanto quanto seus observadores. Nada é o mesmo, tudo se modifica. E não há volta. Entender que o Passante é provido de uma carga artística que supera a latência implícita de suas partes em madeira passíveis de ser um apoio a quem caminha ao seu lado é possuir um saber que compreende arte. Tal possibilidade é antes ponto de partida para desvelar cegueiras que condição no trabalho de Zanette. Todo o planejamento do artista para a execução de sua peça nos mostra uma atitude que procura conceber o espaço da vitrine permeando representações características de sua própria gênese desde seu Mobiliário Melancólico[1].
Contudo, qualquer que seja nosso desejo em revelar de imediato o que ali está exposto torna-se frustrante uma vez que a única certeza que temos de palpável é o devir da obra, é o que ela ainda nos dirá quando quietos e compassivos pensarmos que talvez houvesse outra intenção, quem sabe menos retórica e mais intuitiva, de despojar a arte da razão e entregá-la de bom grado ao consumo de olhos ligeiros que guardarão na memória uma passagem, um passante, um passado.
Osvaldo CarvalhoNiterói, 2010
[1] Mobiliário Melancólico: Inflexões poéticas sobre objetos incômodos. Título da dissertação do artista para mestrado pela UFRGS, 2007.

Consulte
http://hdl.handle.net/10183/10844.

ESTUDIO DEZENOVE
Travessa do Oriente 16A
Santa Teresa Rio de Janeiro
Telefone 21 - 2232-6572
http://estudiodezenove.carbonmade.com

Um comentário:

Anônimo disse...

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