segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Zero Hora e Fênix

Na Zero Hora do dia 05/12, no Caderno da Cultura temos o artigo abaixo transcrito, que tenta apimentar o contexto artístico através da lembrança crítica de filósofos, críticos de arte, etc. Já desde Monteiro Lobato que, na década de 20, avacalhou a expressão artística de Anita Malfati, precursora do Modernismo no Brasil, fato que gerou a desistência de Anita continuar a produzir....Arte.

O desconsolo de Anita e sua desistência consequente não deveriam ser tomados como bom exemplo para nós, artistas atentos. A obra dela que, circunstancialmente "em cima do lance" gerou a polêmica,..., isto sim,...deve ser tomada como exemplo a seguir. E foi o que aconteceu entre seus pares de época. Nenhum outro (de expressão) desistiu e temos hoje a magnífica experiência Modernista no Brasil como referência de "cara-seriedade-coragem-determinação".

Estamos bem em meio a uma DISCUSSÃO PARA REMODELAÇÃO das formas e conteúdos da expressão artística contemporânea. Não só aqui em Porto Alegre mas no mundo inteiro. Mas isto não quer dizer que este ou aquele crítico ou filósofo tenham a resposta para a saída evolutiva daquilo que nós artistas produtores e consumidores de Arte faremos. Não acredito nisto até por sensibilidade comprometida com o fazer e com o pensar Arte.

Talvez os críticos e filósofos (acadêmicos também?), por pensarem mas não fazerem,..., prescindam da força genuína que vem bem lá de dentro do protagonista genuíno de toda polêmica artística, qual seja, ..., única e exclusivamente: O ARTISTA.

Vejo com bons olhos e coração este remelexo honesto e verdadeiro. Sim! A Arte, Artistas e Sistema Artístico estão em crise. Ótimo! Que tudo se revele o mais honesto possível, mesmo que fraco, esgotado e, talvez, morto. É então que RENASCERÁ A FÊNIX!!! Sempre foi assim, e sempre será. O sistema das artes se tornará mais humilde, amplo e flexível; os artistas se tornarão mais comunicativos e pé-no-chão, além de buscarem fundamentações mais coerentes com a participação da Arte num contexto menos individualista e mais universal; a Arte receberá de braços abertos todas as novas produções artísticas REALMENTE INOVADORAS, repletas de graça, pertinência, conteúdo e competência. Um prazer de "recomeço".

Sejamos atentos! Aqueles verdadeiros artistas que não vivem apenas do mercado de arte muito mais sentem e percebem, INTUEM, mas também sabem que o caminho natural é sempre denovo esse. A crise, a reflexão, o ressurgimento, a comunhão.
Carla Volkart - artista plástica (apaixonada, of course!!!)



05 de dezembro de 2009 N° 16176Alerta
ARTES
O mal-estar do século

Calhou de o polêmico artigo de Voltaire Schilling sobre as “perversidades” da arte moderna e contemporânea ter precedido em poucas semanas a visita do jornalista Tom Wolfe a Porto Alegre. Último conferencista do ciclo Fronteiras do Pensamento, o autor de A Palavra Pintada veio anunciar seu mal-estar diante da criação artística dos séculos 20 e 21. Além de clamar pelo nacionalismo e pelos bons costumes, ele disse que Pablo Picasso e Henri Matisse fizeram o que fizeram porque não sabiam desenhar, menosprezou o escultor Richard Serra, que o mesmo Fronteiras trouxera no ano passado, e defendeu como alternativa o retorno à artesania e à habilidade manual.

Manifestações como as de Schilling e Wolfe, geralmente em tom irreverente, aparecem de tempos em tempos, mas não chegam a configurar uma tendência. No Brasil, o marco referencial desse gênero de celeuma é a crítica que o escritor Monteiro Lobato dirigiu à pintura de Anita Malfatti em 1917, no jornal O Estado de S.Paulo. Em um artigo que mais tarde ficaria conhecido sob o título de “Paranoia ou mistificação?”, o criador do Sítio do Picapau Amarelo repudiava o modernismo como um todo (seria uma “arte caricatural”) e defendia a retomada dos padrões estéticos da Antiguidade. Conta-se que ele não chegou a visitar a exposição de Anita.

Mais recentemente, pelo menos desde o início dos anos 1990, o poeta e crítico de arte Ferreira Gullar aparece como o arauto contra as novas linguagens. Ele reconhece as vanguardas modernas, aceita as produções mais radicais das décadas de 60 e 70, quando ele próprio foi um expoente do experimentalismo, mas rejeita praticamente tudo que não seja, hoje, pintura ou escultura. Essas ideias ele expõe no livro Argumentação Contra a Morte da Arte (1993) e chegou a apresentá-las em 1999, em uma palestra em Porto Alegre, a qual provocou, na época, dois artigos aqui no Cultura. Ainda mais recentemente, o poeta Affonso Romano de Sant’Anna e o jornalista Luciano Trigo, articulista da Folha de S.Paulo, têm seguido a mesma linha. Romano publicou Desconstruir Duchamp em 2003, livro no qual diz que Marcel Duchamp não passa de um iconoclasta que teria sido levado a sério pelas gerações seguintes. Trigo está lançando pela Civilização Brasileira o livro A Grande Feira, no qual assume o tom de denúncia para discutir as relações entre artistas e mercado.

Há traços mais ou menos comuns entre esses autores. Eles costumam dizer que estão falando em nome de uma maioria (a qual estaria calada por medo de parecer ignorante), tendem a generalizar, imaginando que a arte contemporânea seja um todo homogêneo, com obras todas iguais umas às outras, e todas pautadas pelo embuste, acreditam na existência de um pacto de silêncio e aceitação entre artistas, mercado, críticos e curadores. Sobretudo, pregam a retomada de critérios tradicionais de avaliação da obras de arte, como saber fazer, dominar a técnica e perseguir a beleza clássica.

Pensadores dos campos da Estética, da Filosofia e da História da Arte têm ponderado, na maioria das vezes, que, de fato, não é fácil se relacionar com a arte contemporânea. Reconhecem que, desde as provocações duchampianas na década de 1910, mas, sobretudo a partir dos anos 60, com a Pop Art e a arte conceitual, as certezas nesse campo são cada vez mais raras. Por diferentes caminhos de análise, autores como Arthur Danto, Hal Foster, Rosalind Krauss e Hans Belting discutem o tema. As conclusões são distintas. Todos, porém, tendem a aceitar que não se pode examinar a arte do presente com critérios do passado. O belo de ontem não é igual ao belo de hoje. Alegam também que qualquer relação com uma obra de arte – seja a relação de um especialista ou a de um leigo – deve se basear no contato com a obra, com o convívio e a proximidade. As questões, se houver, vão surgir desse contato. Isso não quer dizer que a obra vá se revelar interessante. Talvez ela se revele pobre.

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